Pular para o conteúdo principal

A diferença entre os profetas da Bíblia e Miguel (The King of The Power)

 


Nos últimos tempos, a figura de Miguel Oliveira, conhecido nas redes sociais como "The King The Power", também chamado de pastor mirim, tem ganhado notoriedade por suas pregações inflamadas, alegações de curas milagrosas, e manifestações espirituais em cultos que chamam a atenção da mídia e do público evangélico. Contudo, diante de suas ações, surge a necessidade de refletir biblicamente: qual é a diferença entre os profetas da Bíblia e Miguel? Será que sua atuação se alinha aos verdadeiros profetas de Deus descritos nas Escrituras?

Neste artigo, vamos abordar de forma bíblica, teológica e espiritual as distinções entre os profetas bíblicos e esse novo fenômeno contemporâneo. Usaremos versículos que nos ajudam a discernir os verdadeiros profetas daqueles que agem por motivações humanas ou enganosas.


1. O chamado dos profetas bíblicos

Na Bíblia, os profetas de Deus eram homens e mulheres escolhidos diretamente pelo Senhor, com uma missão clara: transmitir a Palavra de Deus ao povo. Não era uma função voluntária ou motivada por fama, mas sim um chamado sagrado e muitas vezes doloroso.

Veja o exemplo de Jeremias:

“Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre te santifiquei; às nações te dei por profeta.”
(Jeremias 1:5)

Jeremias não buscou reconhecimento nem lucros financeiros. Ele foi perseguido, preso e rejeitado, mas permaneceu fiel ao que Deus ordenou. Os profetas verdadeiros estavam dispostos a pagar o preço por anunciar a verdade, mesmo que isso lhes custasse a própria vida.


2. O perfil dos profetas da Bíblia

Os profetas bíblicos não buscavam popularidade. Muitos eram rejeitados, considerados loucos ou perigosos. Isaías andou nu por três anos como sinal para o povo (Isaías 20:2-3), Ezequiel comeu pão feito com esterco (Ezequiel 4:12-15), e Daniel foi jogado na cova dos leões.

A mensagem dos profetas era, em sua maioria, de arrependimento, santidade e retorno ao verdadeiro Deus. Eles confrontavam reis, denunciavam o pecado e chamavam o povo à obediência.

Compare isso com a abordagem de Miguel, cujos cultos são marcados por:

  • Destaque excessivo em milagres imediatos e sensacionalismo;

  • Uso de frases de efeito como “eu rasgo o câncer” e “eu filtro o sangue”;

  • Pedir ofertas altíssimas, chegando a R$10 mil, segundo reportagens recentes.

A Bíblia nos adverte:

“E muitos falsos profetas se levantarão e enganarão a muitos.”
(Mateus 24:11)


3. Os sinais dos falsos profetas

A Bíblia oferece critérios para identificar falsos profetas:

  1. Profetizam paz quando há juízo:

    “Eles curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz, quando não há paz.”
    (Jeremias 6:14)

  2. Buscam lucro com a fé:

    “Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”
    (Mateus 7:16)

  3. Usam o nome de Deus em vão:

    “Assim diz o Senhor Deus: Ai dos profetas loucos, que seguem o seu próprio espírito e coisas que não viram!”
    (Ezequiel 13:3)

Miguel afirma que seus dons são sinais de que Deus está com ele, mas o próprio Jesus advertiu que sinais e milagres não são prova de que alguém pertence a Deus:

“Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.”
(Mateus 7:22-23)


4. A humildade e reverência dos profetas de Deus

Outro ponto claro de diferença é a postura dos profetas bíblicos diante de Deus. Eles se viam como servos, muitas vezes com temor e tremor, conscientes de sua fragilidade.

Isaías disse:

“Ai de mim! Estou perdido! Porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios.”
(Isaías 6:5)

Já Miguel se autodenomina "The King, The Power" (O Rei, O Poder), títulos que são incompatíveis com a humildade exigida por Deus. A Bíblia é clara:

“Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.”
(Tiago 4:6)

O verdadeiro profeta exalta a Deus, não a si mesmo. Ele aponta para Cristo, não para sua própria imagem.


5. O conteúdo das mensagens

A mensagem central dos profetas sempre foi: arrependam-se, voltem-se a Deus, abandonem seus pecados, sejam santos. Mesmo quando falavam de promessas, essas estavam sempre condicionadas à obediência e à fidelidade.

Hoje, muitas pregações populares, como as de Miguel, se concentram em prosperidade, curas e poder, sem o chamado ao arrependimento. É uma fé centrada no homem e nos seus desejos, e não na cruz de Cristo.

“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências.”
(2 Timóteo 4:3)


6. O uso das ofertas e dinheiro

O escândalo envolvendo Miguel está relacionado ao pedido de ofertas vultosas, sugerindo que quanto mais se oferta, maior o milagre recebido. Esse tipo de prática é condenada nas Escrituras.

O apóstolo Pedro advertiu:

“Por avareza, farão de vós negócio com palavras fingidas...”
(2 Pedro 2:3)

Os profetas da Bíblia, como Eliseu, recusavam presentes:

“Porém ele disse: Vive o Senhor, perante cuja face estou, que não o tomarei.”
(2 Reis 5:16)


7. A maturidade espiritual

Miguel tem apenas 15 anos. Embora a idade não seja em si um impedimento para ser usado por Deus — vide Samuel e Timóteo — o contexto exige maturidade espiritual, liderança responsável e supervisão.

Paulo orienta:

“Não imponhas precipitadamente as mãos sobre ninguém...”
(1 Timóteo 5:22)

Além disso, toda pregação e ministério devem estar debaixo de autoridade e disciplina espiritual, algo que parece faltar no caso de Miguel, conforme indicam as investigações e a intervenção do Conselho Tutelar.


8. O verdadeiro centro da profecia: Cristo

Todos os profetas bíblicos apontavam para Jesus Cristo. O espírito da profecia é o testemunho de Jesus (Apocalipse 19:10). Portanto, qualquer ministério profético verdadeiro deve ser centrado na glória de Cristo, não em manifestações, shows ou engrandecimento humano.

Jesus disse:

“Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.”
(João 14:6)

Se uma pregação não leva o ouvinte ao arrependimento e à fé em Cristo, está fora do padrão bíblico.


Conclusão

Miguel, o pastor mirim, é um fenômeno que gera tanto admiração quanto preocupação. Seu carisma, eloquência e aparente unção chamam atenção, mas é necessário discernimento bíblico para julgar se ele é um verdadeiro profeta ou apenas um reflexo de um tempo onde o espetáculo muitas vezes substitui a verdade.

Os profetas da Bíblia foram homens e mulheres de oração, sofrimento, renúncia e santidade. Eles não buscavam aplausos nem riquezas, mas agradar a Deus. Eles falavam em nome do Senhor, com temor, e suas palavras se cumpriam.

Portanto, como cristãos, precisamos nos lembrar do que o próprio apóstolo João escreveu:

“Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo.”
(1 João 4:1)

Que Deus nos conceda sabedoria, humildade e temor, para permanecermos firmes na Palavra da Verdade, sem sermos enganados por falsas aparências de piedade. Que sejamos guiados não por sinais, mas pelo Espírito Santo, que nos conduz a toda verdade.

Comentários